Foi um dia inesquecível. Não tem como ser diferente.
Jogamos com 7 jogadores, contra 11 adversários, contra o árbitro, contra um estádio lotado...
Jogamos, vencemos e fomos campeões.
Mas o que menos importa neste episódio é o troféu.
Essa é a minha história.
Estávamos no inferno da série B, atolados de dividas e tínhamos que subir ou subir.
Eu trabalhava em uma financeira na capital. Saí do trabalho e me instalei em uma galeria na Voluntários da Pátria, em um restaurante onde eu costumava almoçar. Não daria tempo de chegar em casa. Resolvi assistir o jogo ali. Não fazia ideia que seria um jogo inesquecível.
O jogo iniciou e o Grêmio não estava bem dentro de campo. De nervoso comecei a beber cerveja.
Me tranquilizei um pouco quando no outro jogo a Portuguesa fez um gol em cima do Santa Cruz. Baita resultado paralelo.
Ainda no primeiro tempo, o arbitro inventou um pênalti para o adversário. Eu já devia estar na terceira ou quarta garrafa. O Grêmio mal em campo e o adversário tinha um pênalti.
Alguns colegas de trabalho também foram lá assistir o jogo. Wagner, Gisa, Celina e Daniela. Durante o jogo fiz amizade com um negãozinho desconhecido tão fanático quanto eu. Gostaria de um dia reencontrar esse meu amigo. Se me esqueci de alguém perdão. A esta altura já estava meio bêbado.
Voltando ao jogo. O pênalti foi batido, Galatto saltou na bola e ela explodiu na trave. Sobrevivemos.
Logo adiante, o nosso lateral esquerdo, Escalona, erra o bote e acerta uma forte entrada no adversário. levou o amarelo. Era o prenuncio de que o jogo se tornaria dramático.
Até o final do primeiro tempo o jogo se seguiu bastante parelho. O Náutico sentiu o pênalti desperdiçado e o Grêmio melhorou um pouco. Só um pouco.
Durante o intervalo mais cerveja. O nervosismo era enorme.
O segundo tempo começou pior que o primeiro. O Grêmio estava perdido em campo. Para piorar, o Santa Cruz estava empatando com a Portuguesa.
Por volta de 30 minutos do segundo tempo, dois golpes. Ao mesmo tempo que caía a heroica resistência da Portuguesa e o Santa Cruz virava o jogo, Escalona corta a bola utilizando a mão esquerda. Cartão vermelho. A esta altura e já nem sabia mais o quanto eu já tinha bebido.
Durante os próximos 5 minutos não tinha como ser diferente. O empate nos servia para subir, e o Náutico pressionou. Pressionou tanto que aos 35 um chute de fora da área explodiu no corpo do volante Nunes, fora da área e o arbitro inventou um segundo pênalti. O desespero tomou conta de mim. Enquanto eu derramava lágrimas de aflição, Patrício e Nunes era expulsos por agredirem o apitador que estava tentando derrubar o Grêmio. A confusão foi generalizada e o jogo parou.
Neste momento, Celina e Daniela foram embora do restaurante. Eu e meu amigo desconhecido não acreditávamos no que víamos. Ficaríamos mais um ano na B.
A confusão se seguiu por cerca de 20 minutos. O Santa Cruz estava dando volta olímpica, já que qualquer resultado diferente de uma vitória do Grêmio, daria o titulo aos pernambucanos.
Eu queria que o Grêmio saísse de campo. Defender o pênalti era algo completamente improvável, e mesmo que defendesse, como se defender por mais 10 minutos de jogo com 3 jogadores a menos.
Foi decidido então que o pênalti seria batido. Antes da cobrança, o zagueiro Domingos também foi expulso. Agora eram 4 a menos.
Os medalhões da equipe do Náutico não queriam bater. Sobrou para o camisa 6 Ademar.
O jogador cobra o pênalti e eu vejo através das poças de lágrimas que eram os meus olhos aquela esfera branca subir maravilhosamente.
Era festa. Eu gritava e me abraçava em todo mundo. O jogo pra mim tinha acabado.
Não vi o jogador Batata receber o segundo amarelo. Não vi o gol do Anderson. Eu ainda vibrava com a defesa do Galatto quando fui despertado pelo Wagner e pela Gisa me avisando que o Grêmio tinha feito um gol.
Depois disso o jogo acabou e o Grêmio tinha escapado do inferno da B.
Incrível.
Não me lembro nem como fui para casa e com certeza não paguei um centavo de todas as cervejas que eu tomei. Mas com certeza foi uma das caminhadas mais maravilhosas da minha vida.
Essas são as minhas lembranças daquele dia incrível.
Amigos, quando escutarem torcedores colorados ou os isentos desmerecendo a Batalha dos Aflitos, não deem bola. Eles não vão conseguir entender o sentimento daquela partida.
Não comemorem o título da B, mas se orgulhem da forma que o Grêmio subiu. A partida foi um marco histórico. Se fala nela até hoje no mundo inteiro.
Claro, não se contentem apenas com a batalha dos aflitos. Vamos buscar novamente Brasileiro, Libertadores e Mundial, mas nunca esqueçam dessa partida. É mais um grande episódio da nos história vitoriosa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário